Tarifas dos EUA: Um alerta estratégico para as empresas da nossa região (Artigo de opinião por Paulo Barreira)

10/04/2025

As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos à China, como a absurda taxa de 104% sobre veículos elétricos, são muito mais do que um episódio da rivalidade comercial entre potências. São um sinal claro de que vivemos tempos de instabilidade económica com efeitos que ultrapassam fronteiras. E quem pensa que isso não diz respeito a Portugal, ou à nossa região de São João da Madeira e Aveiro, está profundamente enganado.

A nossa economia está integrada nas cadeias globais. As nossas indústrias, do calçado aos têxteis, dos moldes aos componentes, não operam isoladas. Dependem de matérias-primas, peças, equipamentos e, claro, mercados internacionais. Quando os EUA impõem tarifas à China, isso afeta diretamente o custo das importações, as rotas comerciais, os preços finais e, por consequência, a competitividade das empresas portuguesas.

O caso dos produtos minerais não metálicos e têxteis, identificados como os mais afetados em Portugal, é apenas a ponta do iceberg. Setores como o calçado e a indústria transformadora da região de Aveiro estão profundamente ligados a mercados externos. Quando a cadeia quebra ou encarece, todos pagamos: empresários, trabalhadores e consumidores.

Os empresários portugueses já se pronunciaram com clareza. Muitos consideram que a Europa precisa de agir com força e com uma só voz. Mas essa força não se mede em retaliação, mede-se em inteligência estratégica: em apoiar as empresas, em incentivar a inovação, em abrir novos mercados e em tornar as nossas economias mais resilientes.

Enquanto presidente da ACISJM, defendo que este é o momento de atuar. Não podemos esperar que as consequências batam à porta, elas já estão cá. O que precisamos, no meu ponto de vista e sabendo da complexidade, é de:

  • Redefinir mercados e canais de exportação, olhando com mais atenção para países emergentes, fora da tensão EUA-China.
  • Reduzir a dependência de fornecedores únicos, sobretudo os asiáticos, procurando alternativas locais e europeias.
  • Investir em valor acrescentado, em tecnologia, sustentabilidade e diferenciação, porque competir por preço, neste novo cenário, será suicídio económico.
  • Ter uma resposta coordenada, entre empresários, associações e poder público, para proteger e desenvolver o tecido económico que construímos ao longo de décadas.

Este é o tempo de olhar com realismo para os desafios e com coragem para as soluções. As tarifas norte-americanas podem parecer distantes, mas os seus impactos são próximos e reais. Cabe-nos a nós, empresários da região de São João da Madeira e Aveiro, não apenas resistir, mas antecipar e transformar.

Por Paulo Barreira, Presidente da Associação Comercial Industrial de S. João da Madeira e Empresário

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