
Portugal já atingiu 600 mortes diárias e a maioria não é de Covid-19
15/01/2021
Durante 2020, bem como no arranque deste novo ano, o número de mortes diárias em Portugal está a atingir valores recorde. O receio dos doentes crónicos em contrair a infeção de covid-19, ao aceder às consultas presenciais, pode estar na origem desse aumento do número de mortes, e isso preocupa a comunidade médica, até porque há uma clara diminuição de diagnósticos. Segundo dados do Portal da Transparência, em Portugal, até outubro de 2020, foram feitas menos 6,5 milhões de consultas presenciais nos centros de saúde.
Nem só de covid-19 os nossos serviços de saúde se têm de preocupar. Atualmente, o número de mortes diárias em Portugal já atingiu as 600 pessoas, e a maioria não estão relacionadas com o novo coronavírus. Há várias doenças crónicas, que devido à pandemia têm vindo a ser um bocado descuradas, muito pelo receio dos pacientes em contraírem a infeção de covid-19.
Segundo dados do Portal da Transparência, em 2020, foram feitas menos 6,5 milhões de consultas presenciais nos centros de saúde. Por exemplo, no caso dos doentes com problemas cardiovasculares, o ideal é serem vistos pelo médico entre duas a três vezes por ano. Durante o ano passado isso não aconteceu e os doentes, em alguns casos, acabaram por deixar a medicação e aqueles que já deveriam ter feito análises ainda não as fizeram. Para reverter essa situação, os médicos pedem que não se generalize a teleconsulta, e deixam um alerta à Ordem dos Médicos para que crie regulamentação específica com o que deve ou não ser tratado à distância.
Relativamente às doenças oncológicas, o número de diagnósticos de cancro diminuiu entre 60 a 80% durante o ano de 2020. Nesse sentido, a Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) lançou a campanha “O Cancro não Espera em Casa”, que tem como objetivo incentivar a população a realizar os exames de rotina e os rastreios.
Em entrevista à SIC, Ana Raimundo, presidente da SPO, explicou que a diminuição de diagnósticos está relacionada com a “redução da procura, por parte dos doentes, de cuidados médicos por receio de contrair a infeção de covid-19″ e com a “capacidade diminuída de resposta do sistema de saúde”. Este atraso nos diagnósticos poderá ter impacto no futuro.
“É necessário estabelecer prioridades, estar atento e relembrarmos que apesar de estarmos preocupados com a covid-19, as outras doenças não desapareceram. Estão aí, também matam e o cancro mata mais do que a covid-19. Não tem um impacto imediato como tem a covid-19, mas nos próximos meses, nos próximos anos irá sentir-se o impacto deste atraso nos diagnósticos, do atraso no caso do início dos tratamentos”, assegura.
Nesta sua entrevista ao canal de televisão, Ana Raimundo admite que, apesar da importância que um diagnóstico inicial tem no tratamento do cancro, “devido à pressão existente no Serviço Nacional de Saúde, não será possível realizar todos os exames de rotina ou rastreios que normalmente eram feitos”. Mesmo assim, pede à população que não desista de tentar marcar uma consulta quando identifica algum sintoma associado com doenças oncológicas – como perda de peso repentino, cansaço ou o aparecimento de nódulos.