Mostra-me tua estante e te direi quem és

05/04/2020

Como evitar uma possível exposição do seu eu doméstico e privado em tempos de videoconferência?

Nestes tempos sombrios que nos impulsionam do mundo físico (presencial) para o mundo virtual, uma repentina janela do nosso “eu” doméstico e privado pode ser aberta. Ao nos encontrarmos no reino virtual e amenizar esta imposição ao isolamento físico, utilizamos, às vezes por horas a fio, a videoconferência como forma de comunicação. De repente e inadvertidamente, podemos expor o ambiente “íntimo” de nossos lares e rotinas diárias.

Esta exposição visual pode ser voluntária, muitas vezes até encenada, e uma certa falta de intimidade com o posicionamento da câmera do computador ou do telemóvel, pode mostrar um design de interiores que não deveria aparecer e, subitamente, aquela “fronteira” tão dificilmente conquistada entre a vida doméstica e a vida profissional, pode ir por água abaixo.

Nunca tantos tetos e chãos foram transmitidos globalmente em tempo real. Uma variedade de estantes, repleta de livros e objetos pessoais, decorativos ou não, são expostos. Layouts de cozinhas, decorações de paredes, camas, animais domésticos e crianças correndo se tornaram comuns nas videoconferências de reuniões de trabalho.

Sentimo-nos como se estivéssemos olhando pelo “buraco da fechadura”, ou no papel de James Stewart, como o fotógrafo Jeff, que estava confinado em casa há seis meses, no filme “A Janela Indiscreta” de Alfred Hitchcock. Mas certamente, utilizando algumas estratégias, pode-se evitar ou minimizar esta exposição.

A estabilidade e enquadramento da imagem

Em reuniões de trabalho opte pela câmera do computador, mas caso não seja possível, utilize a câmera do telemóvel, posicionando-o na horizontal, com um suporte fixo e estável e não esqueça que um bom enquadramento é tudo numa apresentação. Poderá parecer estranho, mas a tela do seu computador, se for o caso, deverá estar mais baixa do que você normalmente usa.

Ambientes pequenos, apertados e pouca luz

Uma simples alteração do layout pode criar uma impressão de espaço, movendo a mesa para um lado da sala que tenha uma visualização melhor e mais segura do fundo. Sempre observe a luz que vem da janela. Quando for o caso de gostar dessa posição, mas houver muita luz, compense iluminando do lado oposto, para que não haja luz demais de um lado e sombra demais de outro. De qualquer forma, luz é importante. Evite estar no escuro.

Exposição de aparelhos eletrônicos

Cuidado. Inconscientemente parece existir uma relação inversa entre o status social e o tamanho da sua televisão. Não que isso seja importante, mas quase que com certeza isso pode influenciar na comunicação. Procure sempre evitar “símbolos de status” eletrónicos ou outros, que possam causar falsas impressões ou mesmo colocá-lo em uma posição de excesso de destaque.

Estantes de livros como “pano de fundo”

Essa estratégia visual é a mais usada e algumas parecem ter sido arduamente montadas, pois em tempos de livros virtuais, estantes com livros em papel praticamente desapareceram dos lares modernos. Uma bela e moderna estante de livros ao fundo parece impressionar qualquer observador e até deixar uma impressão de intelectualidade. Apenas tome cuidado para não soar falso.

Nesse momento entra a coerência visual. Ao montar o seu cenário, adereços ou objetos visíveis, adquiridos em viagens podem ajudar também a deixar uma boa impressão. Alguns livros poderão ser arrumados de acordo com a ocasião e neste momento de pandemia, livros como a “Lógica do Cisne Negro” de Nassim Taleb, podem aparecer em destaque, além de outros que tratem do tema da incerteza e do caos dos tempos atuais. Talvez seja importante lê-los, para o caso de alguém lhe perguntar sobre o conteúdo.

Toda estratégia tem riscos, então procure prevenir o surgimento repentino de crianças gritando e incomodando a sua reunião. Mas, se isto for impossível, saiba que existe a possibilidade de minar aquela tão famosa perfeição doméstica. Faça o que puder para evitar esses “incidentes”. Uma porta fechada pode ajudar bastante.

Menos é mais

Uma ótima regra para uma comunicação virtual (remota) deve ser sempre o “menos é sempre mais”. Quanto menor o número de informações visuais à ser captada pelo observador, maior será a atenção para aquilo que está sendo transmitido na reunião.

A humanidade nesses dias de pandemia está mobilizada para combater um inimigo comum. São tempos caóticos para uns e sombrios para outros e, para algumas pessoas, pode ser fundamental e estratégico manter alguns dos pilares da vida tecnológica atual, que é a possibilidade de “manter as aparências”. Para nosso próprio bem futuro, precisamos ser coerentes com a vida que tínhamos no presencial.

Vale conhecer os detalhes na nossa matéria “Nesses tempos de teletrabalho, a imagem é tudo”

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