
Já não aguento mais!
18/04/2020
Os dias passam e a nossa vida continua em suspenso. As medidas de confinamento impedem-nos de manter as rotinas diárias a que estávamos habituados. Não podemos viajar, passear nem tomar um café com amigos, ou seja, os nossos momentos de lazer estão igualmente limitados.
Vamos acumulando tensão. A cervical começa a pesar, a cabeça começa a doer, a irritabilidade começa a aumentar, já não podemos ver notícias, a falta de paciência instala-se, já não toleramos opiniões sobre a porra do coronavírus, só queremos que isto passe, mas não sabemos quando, já não conseguimos ouvir a voz de quem vive connosco, dizem que vai ser a maior crise de sempre, desesperamos, um prato parte-se, estremecemos, temos de acordar para a vida, mas que vida?, temos de fazer limpeza, pôr a roupa a secar, cozinhar, teletrabalho, porra para isto, perguntamos o que fizemos de mal para merecer tal inferno, e insistem em pintar um cenário negro, chamam-nos para ajudar em alguma coisa, não temos sossego, desejamos sair de casa o mais breve possível, Bolsonaro na TV, depois vem o Trump, teorias da conspiração, não há paciência, queremos ir para a ilha, mas também não podemos, levamos as mãos à cabeça, já estamos a perder o fôlego e….CHEGA! Já não aguentamos mais!

Com menos oportunidades para desanuviarmos, a verdade é que os nossos níveis de paciência e tolerância vão sofrendo oscilações. Por muito bem que as famílias se deem, quando passamos mais tempo em casa é natural que surjam desavenças. O aumento da tensão promove um ambiente mais pesado e potencia conflitos. Por vezes podemos parecer uma bomba relógio prestes a explodir e a gerar o caos.

São momentos que exigem de nós um maior esforço para lidarmos com estes percalços. Não há receitas milagrosas, mas há atitudes que podem ajudar a prevenir os conflitos familiares ou a geri-los de forma mais eficaz. Assim, podem evitar os conflitos:
- Mantendo uma postura tranquila (manterem o contacto com amigos e familiares, partilhando as vossas preocupações; limitarem o acesso a informação, consultando fontes credíveis; confiarem nas autoridades de saúde e nas vossas capacidades para enfrentarem a situação);
- Tirando tempo para vós (praticarem exercício físico e outras atividades de que gostem, de modo a criarem momentos “de escape”, para se concentrarem noutra coisa que não a situação que vivem);
- Respeitando o espaço de cada um (ao longo do dia é provável que precisem de estar sozinhos, numa divisão da casa, sem ver ou falar com ninguém, assim como as outras pessoas que vivem convosco);
- Mantendo uma comunicação positiva (é importante falarem em família sobre o que vos causa desconforto, darem a vossa opinião e apresentarem possíveis soluções para alguns problemas, sempre com assertividade, ou seja, sem que vos “salte a tampa”);
- Praticarem a escuta ativa (escutarem-se uns aos outros sobre as vossas dificuldades, sem criticarem o outro, encorajando a partilha de emoções);
- Tentarem ser mais tolerantes (“darem um desconto”);
- Afastarem-se quando perceberem que a discussão está próxima.
Porém, caso não consigam evitar o conflito e o mesmo aconteça, há atitudes que ajudam a geri-lo de forma positiva. Por exemplo:
- Evitarem acusar ou julgar o outro;
- Mostrarem-se disponíveis para conversar e resolverem o conflito “a bem”;
- Serem empáticos, ou seja, tentarem colocar-se no lugar do outro, vendo o problema com “a lente” dele (o que ele pensa ou sente);
- Partilharem pensamentos e sentimentos (não é esperado que o outro saiba o que está a pensar ou a sentir exatamente, sem que lhe diga);
- Não encararem o conflito como um jogo em que um perde ou ganha, portanto, em vez de competirem, devem negociar;
- Refletirem sobre o vosso comportamento, pois podem controlá-lo e melhorá-lo;
- Pedirem ou aceitarem desculpas, sem guardarem ressentimentos.

Há momentos em que não aguentamos mais. É como se estivéssemos a encher um saco que depois de cheio rebenta. Os estragos que poderão resultar do rebentamento do saco são, em parte, controláveis por nós. Cabe a cada um de nós escolher a forma como prevenimos ou resolvemos os conflitos, sendo certo que, se não for a forma mais adequada os danos serão maiores, tanto a nível emocional como na qualidade das relações interpessoais.