
30/06/2023
Há um novo castelo na Feira que ajuda na resposta ao nível das competências sociais e emocionais. A Associação Castelo Dourado que visa ajudar crianças e jovens do 1º e 2º ciclo e seus pais. Joana Neves, 32 anos, professora de expressão plástica, é a responsável e a principal promotora da associação e falou ao Santa Maria Informação.
A Castelo Dourado é uma associação que ajuda crianças e jovens do 1º e 2º ciclo e pais no desenvolvimento de competências pessoais. Com este projeto, uma das mais recentes instituições feirenses, com apenas três meses, tenciona desenhar um plano através de soluções pedagógicas diferenciadoras. Para isso, promove eventos, palestras, workshops, yoga, meditação e consulta de psicologia, com o intuito de transformar a vida das pessoas.
Joana Neves, 32 anos, professora de expressão plástica, é a responsável e a principal promotora da Castelo Dourado. Leciona no concelho há cerca de sete anos, mas foi o amor que a trouxe até Terras de Santa Maria. Natural de Matosinhos, casou e fixou-se em Paços de Brandão. Talvez pelo facto de já ter trabalhado em muitas escolas do concelho, a sua sensibilidade fez-lhe despertar para um problema, que com a pandemia da covid-19 se veio a acentuar ainda mais. “Os alunos estavam a regredir a nível de competências sociais e emocionais e, por mais que as escolas tenham competências para estar com os alunos, consideramos que são insuficientes no que diz respeito à parte dos recursos humanos, no âmbito da psicologia. No agrupamento existem psicólogos, mas eles não conseguem fazer face a todas as necessidades e a resposta tornou-se insuficiente. Isto é um problema multifatorial, não só da Feira, como também de outros concelhos”.
Detetado o problema era preciso lançar no terreno um projeto que pudesse ajudar a colmatar essa lacuna. Juntamente com uma equipa de professores, auxiliares diretos de várias escolas e pais, estes últimos os grandes incentivadores para a criação da associação, “porque se sentiam algo desprotegidos”, nasceu a Castelo Dourado. No entanto, Joana admite que “chegar aos pais não é fácil. É mais fácil chegar às crianças”. Então a ideia do projeto passa por, em parceria com a Associação Empresarial da Feira e Junta de Freguesia de Lourosa, “que são nossos parceiros”, conseguir chegar ao tecido empresarial, principalmente aos pais, de uma forma mais interventiva, “dando-lhes uma formação mais apelativa, para saber como lidar com estes desafios diários que estamos a enfrentar”. No entanto, admite também que tiveram de repensar o projeto para tentar perceber “como chegar mais facilmente aos pais, até porque acredita que “correria o risco deles não aparecerem”. Nesse sentido decidiram delinear uma estratégia para que eles aparecessem. “Se eles não aparecem, nós vamos ter com eles”.

Juntamente com a associação empresarial, que desempenhou aqui um importante papel na ajuda da realização de formações mais dinâmicas e diretas sobre comunicação, parentalidade, estilos de parentalidade e desafios, foi possível passar um background diferente sobre essa perspetiva educacional. Trabalhando em rede, e aproveitando o facto de as empresas terem espaço para horas de formação que têm de ser cumpridas, “consideramos que assim conseguimos chegar aos pais”.
Já com as crianças, Joana Neves fala numa proposta “muito ambiciosa na área educativa, que passa pela implementação nas escolas de um projeto em torno das emoções”. Intitulado Oficinas das Emoções, o projeto visa ser a continuidade do trabalho feito com os pais e já foi apresentado à Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, estando à espera do feedback da parte deles. A docente lembra que as crianças estão a passar por “processos de auto desregulação enorme, mesmo a nível de gestão emocional, e por vezes é difícil controlá-los em contexto de sala de aula. Nós queremos trabalhar esse lado das emoções, dos afetos e da parte que lhes dá mais ferramentas e competências para lidarem com as adversidades que vão encontrando, e que são bastantes, no recreio, na sala de aula, em casa, com o intuito de conseguirmos chamá-los um bocadinho à razão, criando um núcleo mais familiar e tentando- lhes proporcionar um processo educativo mais feliz”.

A Associação Castelo Dourado é, segundo a presidente da direção, “um bebé, mas está cheio de ideias”. Para além dos dois grandes projetos, “temos outros mini projetos”. Tendo uma equipa ligada às artes, e na qual contam com o Museu de Lamas como parceiro, “arrancamos com um projeto intitulado Castelo de Arte, que também queremos que chegue às escolas, através da aproximação de personagens ligadas à arte e aos artistas, como Picasso ou Van Gogh. Vamos vestidos dessas personagens às escolas mostrando a arte através da personificação, e facilitando o acesso das crianças à arte, misturando um pouco do teatro. Mas este projeto não se quer ficar por aqui. Também queremos chegar aos lares, semeando essa sementinha no concelho”.
“Eu acho que se nós trabalharmos em parceria conseguimos chegar mais longe, do que individualmente”
Tratando-se de uma associação que não visa o lucro, e onde o voluntariado está presente, a sustentabilidade está a ser trabalhada com vista a associação conseguir financiamento no âmbito do novo quadro comunitário 2030, na parte formativa, “que poderá funcionar como uma rampa de lançamento”, admite Joana Neves. Já no que diz respeito às atividades do projeto Castelo da Arte, “se forem dinamizadas serão pagas”. Mas a docente recorda que a Castelo Dourado “ainda não tem critérios para alavancar sozinha, no que toca a financiamentos e alguns projetos que possam advir daí, por isso procuram ter por detrás “pessoas que tenham um historial, trabalhando em equipa, e criando parceiras, as mais abrangentes possíveis”. No entanto, a docente chega a achar que “às vezes” a Feira não está muito habituada a trabalhar em equipa. “Eu já bati a tantas portas e as associações parecem estar avessas a novos projetos. Depois de tantos emails enviados, foram poucas a associações que me responderam”, desabafou. “Eu acho que se nós trabalharmos em parceria conseguimos chegar mais longe, do que individualmente. Nós sabemos das nossas limitações e, por isso, queremos encontrar parceiros que possam colmatar as nossas limitações”.
Para a responsável da Castelo Dourado, as parcerias são muito importantes. “Mesmo que de hoje para amanhã a instituição se afirme e ganhe o estatuto de IPSS, nós queremos manter o trabalho em parceira. Faltam-nos parceiros de peso que nos ajudem a chegar a algum lado”, dando como exemplo a formação junto das empresas, que não o conseguiriam fazer se não tivessem o apoio da Associação Empresarial da Feira. Independentemente disso assegura que os passos estão a ser dados e recentemente estiveram no Parque do Couteiro em Mozelos, com a Back to Basic, uma parceira de Argoncilhe. No entanto, lança o repto a outras instituições e diz estarem recetivos para integrarem outros projetos.
Para já garante que o feedback da parte das pessoas tem sido “muito positivo”. Para Joana Neves “depois do covid as pessoas estão sedentas de algo diferente, com dinâmica e com vida”. No entanto, tem consciência de que este projeto até poderia ter maior aceitação no ensino privado, mas questiona – “e a escola pública, local onde se encontra a maioria das crianças? Ela é que tem de servir de modelo para a sociedade e não as escolas privadas, que já estão bem apetrechadas”. E foi com esse sentimento que abordou a autarquia feirense. “Pedi que me abrissem portas e dei-lhes várias estratégias de implementação do projeto. Incluir o Castelo da Arte, ou se preferissem que pegassem na parte do projeto que interessa-se e utilizassem numa escola piloto, até porque não podemos entrar com tudo porque temos alguma limitação”.
Aguardam feedback da Câmara da Feira
Outra das possibilidades apresentadas foi a de serem os pais a pagar “um valor simbólico por mês para a introdução do projeto”, ou ainda a possibilidade de integrar projetos que já existam no concelho da Feira e que “à priori pudessem também ser parecidos com o nosso e se complementassem, como o ABC do Concelho”. Joana Neves fala também na possibilidade da fusão de um projeto novo, até porque “as câmaras municipais têm acesso a fundos comunitários nos quais nos pudéssemos também fazer parceria. Até ao momento ainda não temos uma resposta, mas esperamos que seja positiva”, porque a ideia, segundo disse ao Santa Maria Informação, “seria para arrancar no próximo ano letivo, apesar de não ser obrigatoriamente necessário que seja em setembro”.
Joana Neves recorda que estiveram presentes no Programa Educativo Municipal e que ficou com a garantia de que as competências pessoais e socio-emocionais estão contempladas. “O vereador Gil Ferreira afirmou que os objetivos delineados iam sendo introduzidos aos poucos, e se falaram nas competências pessoais e socio-emocionais é porque deve ser uma preocupação das pessoas. A Castelo Dourado já tinha feito o trabalho de casa e ficamos contentes em perceber que a câmara também se está a preocupar com isso. A área da saúde mental está na ordem do dia e a covid foi um pouco a impulsionadora para abrirmos os nossos horizontes para outro tipo de preocupações.”. No fundo o que Joana Neves diz que a associação quer é “intervir na parte das competências”, admitindo tratar-se de algo difícil, mas que com uma equipa por trás será meio caminho andado para se conseguir desenvolver um projeto fantástico”.
Deixa no ar o desejo de que o projeto seja inicialmente implementado na Feira, até porque admite ser o seu sonho, “mas não ficamos fechados ao concelho, até porque se não for recetivo connosco, teremos de angariar fundos para ter de saltar para outro concelho. Inclusive já fomos abordados por Vila Nova de Gaia”.
Dia 30 de junho realizam jantar de angariação de fundo no Restaurante Lago
Mas numa primeira fase a questão financeira e a sustentabilidade da associação continua a ser uma preocupação. Daí o facto de terem organizado um jantar de angariação de fundos, no Restaurante Lago, em Santa Maria da Feira, esta sexta-feira, 30 de junho.

“No início desta semana as expectativas quanto ao número de participantes estavam já a ser superadas”, assegurou. “Este primeiro jantar vai-nos possibilitar comprar materiais para a realização das nossas atividades. Todo o dinheiro que temos conseguido arrecadar tem sido sempre para investir em materiais. Por exemplo, compramos os fatos de Pablo Picasso, de Monet ou da Frida Kahlo”.