De volta às aulas como antes…será?

05/10/2020

Mais de duas semanas se passaram do regresso à escola. Uma escola diferente, mas com as mesmas pessoas. Novos horários, novas regras, novas formas de estar em sala de aula e novas formas de estar com os amigos. Todas estas mudanças constituem muitas informações para assimilar, podendo gerar ansiedade, medo, frustração, tristeza, irritabilidade. Algumas dores de cabeça para os pais que, além de gerirem os seus níveis de ansiedade e receios perante um futuro de incerteza a nível profissional e financeiro, podem ficar sem saber como lidar com os seus filhos quando estes manifestarem o que sentem nesta fase.

Comecemos por falar dos mais pequenos. Aqueles seres que estão constantemente sedentos de atenção e afeto. Aqueles que procuram o toque; que precisam de brincar com os colegas; que precisam de abraçar e que ainda não têm capacidade para compreender os problemas de adultos. Um desenvolvimento socioemocional saudável nas crianças implica convívio, não só com os seus pares, mas também com familiares. Este convívio não deve ser desprovido de afeto e uma das formas de manifestarmos afeto por alguém é através de carícias, abraços, beijos, que é tudo menos distanciamento físico.

Certamente não será fácil explicar a uma criança que não pode abraçar e dar beijos aos colegas ou aos adultos. De acordo com o seu nível de compreensão, será importante adequarem o tipo de linguagem, contando uma história criativa em que elas próprias se imaginem como “super-heroínas” no combate ao vírus invisível. Nestes casos, é fundamental que percebam que a ausência de contacto físico não implica a ausência de sentimentos, ou seja, embora os colegas ou os professores não lhes deem abraços ou beijos, não significa que não gostem delas.

No que diz respeito aos adolescentes, a aceitação das regras impostas por entidades que não os ouviram, talvez não seja assim tão fácil. Em parte, porque eles também querem sair com os amigos, querem conviver e estão na altura da descoberta de novas sensações, sentimentos e da sua sexualidade. Ora, algo que impeça que eles tenham liberdade de movimentos e circulação, é algo que impede a aproximação dos seus pares.

Na semana passada uma mãe contava-me que o seu filho adolescente lhe perguntava quando é que isto ia terminar. Confidenciou-lhe que tinha a sensação de que o tempo tinha passado e não o tinha aproveitado com as pessoas que queria. Encarou-o, portanto, como tempo perdido e tem receio de não o conseguir recuperar. Já no regresso à escola, o contacto com os colegas não é a mesma coisa; não podem estar “à vontade”. A mãe explicou-lhe que perante as circunstâncias que nos afetam a todos, é normal que ele se sinta triste e, vendo que o filho estava a controlar o choro, incentivou-o a manifestar a tristeza que sentia, não havendo problema algum se sentisse necessidade de chorar.

Uma questão que me preocupa é que, em circunstâncias ditas normais, ou seja, antes da pandemia, algumas crianças e jovens apresentavam dificuldade em descrever e manifestar as suas emoções e sentimentos, além de sentirem repulsa ao toque. Ora, numa situação em que este afastamento social e físico é prolongado no tempo e é-nos imposto como meio de prevenir um contágio por um vírus que não controlamos e que mata menos do que outras doenças, como serão estas crianças e adolescentes num futuro próximo? Que impacto terá o confinamento e este regresso à normalidade possível na saúde mental das crianças e dos jovens? Para responder a estas questões estão já alguns estudos em desenvolvimento, mas arrisco a prever que os níveis de ansiedade irão disparar nesta população e que será necessário intervir ao nível da inteligência emocional.

A forma como os pais, a escola e os professores lidarem com todas estas mudanças irá determinar o modo como as crianças se adaptarão às circunstâncias, quer a curto, quer a longo prazo, num possível impacto a nível da saúde mental.

A geração habituada a ser livre sente, agora, que a liberdade não é plena. Uma pandemia condicionou os nossos movimentos em prol de um bem comum – o controlo da propagação. No entanto, todas as medidas que nos foram impostas dão uma sensação de aprisionamento, embora, de acordo com os especialistas na matéria, constituem atitudes necessárias para prevenir o contágio.

Com a etiqueta respiratória, com a máscara, com a frequente higienização das mãos e com o distanciamento possível e necessário, a vida continua. E a esperança de que em breve possamos tocar, abraçar e beijar quem nos apetecer, sem medos nem culpas, também.

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