Crianças confinadas a quatro paredes

25/04/2020

Crianças. Seres de pequena dimensão, cuja vitalidade está ao rubro. Acumulam muita energia necessitando de tempo e espaço para a desgastar. Sedentos de atenção, tentam por diversas formas serem o centro das atenções. Falam, gritam, gesticulam, brincam…tudo isto como se não houvesse amanhã. Isso mesmo! As crianças vivem o presente; as preocupações sobre o futuro são coisa de adultos. Estas “ricas pestes” têm o dom de nos amolecer o coração, ao mesmo tempo que nos tiram do sério. São doutorados em testar os nossos limites, mas não deixam de ser seres doces, encantadores e genuínos.

Por estes dias, também elas se vêm confinadas a quatro paredes. Se em tempos saíam de casa muito cedo para irem para a escola e só voltavam ao final do dia, agora a casa é também a escola e o recreio (sem amigos). Porém, têm os pais mais presentes e é expectável que “usem e abusem” da sua presença, numa tentativa de desforra do tempo perdido.

Acontece que os pais se vêm a braços com uma série de tarefas: lides domésticas, teletrabalho e assistência aos filhos. Dito assim até parece pouco, mas a verdade é que a exigência é grande. Como os filhos pequenos exigem demasiada atenção, seja pelas birras, brincadeiras ou a necessidade de apoio nas atividades escolares, a verdade é que é praticamente impossível um pai ou uma mãe manter o horário habitual de trabalho sem interrupções. Isto quer dizer que haverá uma diminuição da produtividade, o que é algo que pode promover frustração, falta de paciência e irritabilidade.

Já todos nos apercebemos que a adaptação a esta nova dinâmica familiar não é fácil nem para os adultos, nem para as crianças. A forma como estas estão a lidar com a situação pode ser uma fonte acrescida de preocupação e inquietação para os pais que, claramente, querem o melhor para os seus filhos. Posto isto, é fundamental perceber que as crianças lidarão melhor com a situação, quanto melhor os pais ou cuidadores também lidarem.

À semelhança do que acontece com os adultos, o confinamento a que estamos sujeitos tem também impacto no bem-estar emocional das crianças, promovendo maiores níveis de ansiedade, stresse, medo, preocupação, frustração, irritabilidade, dificuldades do sono e de concentração. A manifestação do stresse ou ansiedade que experienciam varia consoante a idade que têm. Por exemplo, crianças até aos três anos podem fazer mais birras, chorar mais, apresentarem dificuldades na alimentação e em manter um sono reparador; crianças dos quatro aos seis anos podem ficar mais irritadas, desobedientes e apresentarem comportamentos regressivos, ou seja, comportamentos esperados em idade inferior; já dos sete aos doze anos, além da irritabilidade e dos comportamentos regressivos (medos, enurese, encoprese, não dormirem sozinhas) podem sentir mais dificuldades de concentração e sentimentos de culpa.

As crianças sentem falta da rotina, dos momentos em que podiam brincar livremente e estar com os colegas e amigos. É natural que agora verbalizem querer estar onde dantes não queriam, como por exemplo, a escola. É a forma como os pais, ou os adultos cuidadores, lidam com estes comportamentos que poderá prevenir, ou exacerbar, a possibilidade de virem a sofrer de perturbações mais sérias no futuro, como a perturbação de ansiedade ou depressão.

Deste modo, é importante os pais/cuidadores manterem uma atitude positiva perante as crianças e exercitarem os seus níveis de tolerância. Devem falar com elas sobre o coronavírus, percebendo o que sabem até ao momento e esclarecendo eventuais dúvidas de forma lúdica e tranquilizadora, sempre com um vocabulário adequado à idade, mantendo, assim, uma comunicação próxima e franca. Validar os sentimentos das crianças é fundamental para que se sintam compreendidas e seguras, pelo que devem elogiá-las por partilharem as suas preocupações e emoções. Manter algumas rotinas é desejável, como o horário das refeições, sono, estudo e descanso. Brincarem com as crianças ajuda-as a tranquilizar e a diminuir a ansiedade, uma vez que as centra na relação. O acesso à televisão e às redes sociais deve ser monitorizado, pois pode aumentar a agitação, a ansiedade e o medo, dado não compreenderem muitas das informações a que estão sujeitas. Incluir no dia-a-dia momentos de lazer em família é importante para o desenvolvimento de uma relação positiva entre pais e filhos. O contacto com os seus amigos e outros familiares também deve ser mantido através de videochamada, como meio de atenuar os efeitos do isolamento social.

Termino citando uma frase inserida num dos documentos de apoio da DGS, a qual me pareceu muito pertinente: “as crianças estão bem quando os adultos se sentem bem”.

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