
“Temos encontrado pessoas fantásticas e bastante solidárias”
18/04/2020
Marisa Ventura, proprietária da loja de artes decorativas, 100% Algodão, em S. João da Madeira, com a obrigatoriedade de ter de fechar a sua loja, devido às restrições impostas pelo Estado de Emergência, no âmbito da pandemia de Covid-19, resolveu colocar em prática os seus conhecimentos de costureira. Aceitou o repto de uma enfermeira do Hospital de S. João da Madeira, onde trabalhou durante 10 anos, para fazer proteções de botas para os profissionais de saúde, que faziam falta. A partir daqui aquilo que parecia ser uma pequena ajuda, transformou-se quase numa produção em série de proteções de botas, toucas, máscaras e viseiras, produzidas por um grupo que já anda muito próximo de 30 pessoas.
A proprietária da loja 100% Algodão, de artes decorativas, em S. João da Madeira, depois de ter que fechar o seu espaço comercial, no âmbito do Estado de Emergência imposto pelo Governo, devido à pandemia de Covid-19, olhou para o interior da loja e percebeu que tinha uma peça de tecido, com a qual poderia por em prática o seu jeito para a costura. E, porque “trabalhei 10 anos no Hospital de S. João da Madeira”, e daí ficou uma boa relação com muitos dos profissionais desta unidade, acabou por receber um repto de uma enfermeira para a produção de proteções de botas.

Colocou mãos à obra e começou a cortar os moldes, mas logo aqui surgiu a dúvida quanto à capacidade de resposta para cozer todas aquelas proteções. E, foi aí que surgiram as ajudas, através de clientes que se ofereceram para cozer em casa. E, num ápice a peça que tinha em stock foi transformada em proteções de botas e foi tudo entregue no Hospital.

Com a primeira entrega, a notícia espalhou-se e os pedidos começaram a surgir de outros lados. “Tenho um familiar que é diretor dos cuidados intensivos do Hospital S. Sebastião que também solicitou as proteções”. Só que para conseguir dar resposta a uma necessidade tão grande destes equipamentos de proteção, “tentei perceber se poderiam ser reutilizáveis”, pois assim ao produzir o número suficiente que permitisse substituir, daria tempo de lavar os utilizados e estes serem substituídos por outros. E, assim ficaria com mais tempo para avançar com novas produções. “Eu própria as lavei e testei em casa e os resultados foram positivos”, entretanto, agora “o Hospital está a testar com o detergente que lavam os materiais por causa da Covid-19”. Caso seja aprovado “resolve-se o problema da falta de equipamento”.

Só que, os materiais começaram a faltar, e como envolve alguns custos, era preciso que aparecessem mais voluntários a oferecerem matérias-primas ou mão-de-obra. E, de repente a onda de solidariedade começou a aumentar, algumas das vezes em jeito de donativos, para aquisição de materiais, como elásticos e tecidos, como foi o caso do Centro de Ensino Integral, que permitiu a aquisição de mais uma peça de tecido e máscaras P2, que os Cuidados Intensivos gastam com muita frequência.
Mas, o efeito de bola neve começou a verificar-se, e os pedidos começaram a ser cada vez mais, e foi aí que outros parceiros se juntaram à causa. “Tivemos também oferta de viseiras de algumas empresas, como a SSF, Componentes para Calçado, Lda., em Arrifana, que para lá de estar a produzir as viseiras, faz também o corte do tecido em balancé automático, agilizando o processo de corte que até aqui era feito manualmente.

“Temos encontrado pessoas fantásticas! São bastante solidárias”, referiu Marisa Ventura, que diz não vender nada daquilo que estão a produzir, apenas pede donativos “para transformar em material que depois se transforma em equipamentos de proteção”, tão necessários para aqueles que estão na primeira linha de combate à Covid-19.

Atualmente, a rede solidária inclui cerca de 30 pessoas, “algumas das quais eu nem conheço”, confessa. “E, este fim-de-semana ninguém parou, cozemos, cortamos e embalamos para despachar tudo, porque no S. Sebastião só tinham material garantido até terça-feira”.
Entretanto, está já a preparar um novo projeto para substituir os fatos de proteção, que têm a agravante de serem muito caros, mas são os que os serviços hospitalares mais precisam. Trata-se de um modelo que só protege a cabeça e ombros e é vestido por cima da bata.

“Infelizmente o vírus vai continuar”, lamenta Marisa Ventura, e por isso, o seu trabalho solidário e de todos aqueles que com ela estão neste projeto, seguramente vai continuar a ser preciso, no combate a este inimigo invisível. Só que, os materiais não duram sempre, e é preciso adquirir mais. Nesse sentido está a apelar a ajuda de quem poder contribuir com matéria-prima ou algum donativo para a sua aquisição, porque só assim é possível dar continuidade ao trabalho. Os interessados em contribuir podem contactar a 100% Algodão, na Rua Oliveira Júnior.