
Mais uns dias em casa. Depois tudo volta ao normal!
24/04/2020
Dentro de alguns dias estaremos todos livres para circular livremente. Será? Abrem-se os portões e vamos todos festejar como nunca tínhamos feito antes? Melhor não! Estamos apenas a preparar-nos para aprender a andar. Não pense que já teremos aprendido a engatinhar. Teremos de aprender tudo. Naturalmente, todos estão angustiados com a situação financeira, os empregos, as aulas e até a diversão, mas esse é o momento que temos para pensar, muito bem, em como agiremos ainda no primeiro momento.
O que talvez não tenha ficado claro, ainda, é que o vírus não vai embora de uma hora para outra. Ele não é aniquilado simplesmente porque os dias passam. Nós estamos apenas divididos entre doentes e mais ou menos saudáveis. Estaremos a esperar a nossa vez, ou quase isso. Ao sairmos de casa no dia 3 de maio, o nosso comportamento deve ser como o de um prisioneiro que encontra a porta da cela aberta, sem que ninguém lhe tenha avisado. Temos de ser desconfiados e irmo-nos ambientando aos poucos. Nós, seres urbanos que somos, precisamos de companhia, mas essa é a hora em que teremos cautela.

Os novos velhos hábitos
A nova regra, para todos que se aventurarem fora de casa, vão ser mantidas e talvez fiquem ainda mais pesadas. Tudo isso deverá durar ainda muito tempo. O que era uma recomendação, agora vai ser obrigação. Habitue-se à máscara, ao álcool gel, ao desinfetante de mão, a tirar os sapatos na entrada de sua casa e na dos outros. Esperamos que se criem algumas novas tradições. Daqui para frente você vai aprender a cobrar dos outros atitudes mais responsáveis. Se não for pela segurança do outro, cobre pela sua. Não se recuse a agir como um oriental. Diferentemente de outros vírus, esse não parece preocupar-se com sua imunidade. Ele volta e pelo visto encontrará uma porta escancarada, a sua espera, ao primeiro sinal de descuido.
Retorno ao comércio
O retorno às atividades terá, com certeza, em várias fases. O comércio vai ter de adaptar-se. Vai precisar de muita ajuda e talvez seja a hora da comunidade colaborar, principalmente como comércio local. Eles vão precisar de ajuda dos vizinhos. Como parte de uma cadeia produtiva, se eles vendem para você, alguém que produz, vende para eles e assim as famílias se sustentam.
Talvez daí venha a pergunta: se vou ajudar o comércio local, então não vou mais ao shopping? Não é bem assim que funciona. As lojas do shopping são constituídas por profissionais que dependem do emprego. O que está em jogo é que os pequenos comerciantes são uma ponta fraca, sem reserva financeira, quase nunca fizeram poupança. As grandes lojas têm mais fôlego para suportar mais meses com poucas demissões. Deixe para os shoppings aquilo que você não vai encontrar de modo algum no mercado de rua. O mercado de rua, a costureira, o café, o cabeleireiro e as feiras de rua por exemplo.

Nos cafés e restaurantes, não se espante com as novas distâncias. Mesas mais raras, pessoas também. Sua nova vida terá menos gente ao redor. Não estranhe se no dia 4 de maio, o supermercado ainda estiver mantendo as filas do lado de fora, bem como as farmácias e outros ambientes onde você entrava e esbarrava em quem lhe desse vontade.
Cabe a você ter a consciência de onde coloca seu dinheiro, inclusive, já que estamos a falar de novos hábitos, por que não aprender a negociar? Se o preço de um certo produto no mercado local estiver igual ao do shopping, negocie. Peça desconto. O português gosta de conversar, faz parte de seu ADN, então deve aproveitar para usar esse talento para gastar menos. O mesmo deve acontecer com o mecânico, o eletricista o cabeleireiro e toda a cadeia de comércio.
Lembre-se de ir mais ao campo e compre mais na terra. Eu sei que isso parece demais para você, mas para quem ficou tanto tempo dentro de casa, qual o problema de ir mais longe e conhecer mais a sua região. Fiz ótimos amigos simplesmente perguntando onde ficava o agricultor que me vendesse batatas. Descobri grandes possibilidades só por ir uns quilómetros mais longe. Descobri frutarias, mercadinhos e restaurantes, só por andar a pé um pouquinho além do meu quarteirão.
Os contatos sociais e profissionais
Para os que pensam que vão poder soltar-se, precisam lembrar que o vírus ainda estará a trabalhar. Resista ao abraço acalorado e àquele beijo de chegada ou despedida. Esse é o momento de demonstrar que se preocupa com os seus amigos e manter a distância, aquela de um metro e meio ou dois, pelo menos até que se tenha certeza da segurança, o que pode demorar meses. Por enquanto, poderemos encontrar-nos, mas precisamos saber dos riscos e evitá-los, discutindo mais o assunto em nosso meio de relações.

Continuaremos tendo nossos amigos, mas eles vão ter de entender que para tê-los, precisamos que eles estejam vivos e saudáveis. Se não for por eles mesmo, pelo menos pelos pais deles que fazem parte da nossa cadeia de relacionamento e correm riscos quando descuidamos com nossos amigos ou colegas de trabalho.
Nas empresas de produção deve haver cuidados com os seus funcionários, dando continuidade aos cuidados que hoje já estão em prática nas linhas de produção: postos de trabalho mais afastados, refeições mais distribuídas etc. Nas lojas, será útil manter algumas distâncias e limites de frequentadores. Naturalmente, todos querem lucrar com o retorno às atividades, mas é imprescindível que se cuidem durante muito mais tempo. O lucro devido à pressa, pode-se tornar uma falência por falta de consumidores.
Ginásios e ambientes desportivos, terão de estar preparados para cuidados mais extremos. São lugares em que as pessoas suam com frequência, pegam em materiais e equipamentos e são, sem dúvida, um meio frequente de contágio, mesmo em tempos sem pandemia, já são lugares que exigem muito cuidado. Nesse momento então, torna-se mais importante ainda.
Os nossos velhos
Não podemos esquecer que os nossos velhos ainda serão velhos e ainda estarão nos grupos de risco. Como se não bastasse eles serem um grupo de maior risco, são teimosos. Tendem a ir na direção oposta a que indica a razão. Vão precisar de muita atenção e muita calma. Controlar hábitos de pessoas mais velhas é um verdadeiro exercício de paciência. Nunca desista. Eles valem nosso esforço. Nossos velhos adoram uma boa mão amiga. Eles só não gostam de admitir.

Para alguns de nós, essa relação com o novo comportamento é mesmo complicada. Nós, humanos, não gostamos de discutir nada que seja complicado, mas estamos a viver num mundo diferente, cheio de surpresas, mesmo quando pensamos que tudo se resolveu, ainda tem algo mais para acontecer. Não que não tenha acontecido antes, mas como pelo visto, não aprendemos nada do passado, então tudo é novo. Pragas não nos faltaram antigamente e se a partir dessas tivéssemos aprendido alguma coisa, hoje teríamos um mundo mais seguro, portando tente ser o primeiro dessa geração de pessoas que se cuidam e cuidam dos outros.