Como a maior banda de rock do mundo “ganhou” um logótipo

18/04/2020

Tudo começou como um pequeno emblema para decorar um “single” 45 rotações, se é que alguém se lembra o que é isso, ou para ser aplicado em papéis de lembrete da banda. De repente se tornou um dos logótipos mais famosos do mundo, e o mais celebrado no mundo do rock n’ rol. Faz 50 anos que foi lançado o logótipo lendário dos Rolling Stones e até hoje é visto em tudo: de camisolas T-shirts, isqueiros até decoração de palcos. O logo é imediatamente amado por fãs dos Rolling Stones, mas transcende a banda. O criador, John Pasche, não fazia ideia, naquele tempo, do quanto famoso e lucrativo ele se tornaria.

No começo de 1970, os escritórios dos Rolling Stones entraram em contacto com o Royal College of Art, em Londres. A banda procurava um artista par criar um poster para a tournée europeia. A escola de arte recomendou John Pasche, um estudante do último ano. Pasche encontrou-se com Mick Jagger para discutir ideias para o poster e voltou com um design uma semana depois. Jagger não gostou muito. “Eu acho que isso tinha a ver com as cores e a composição, “disse Pasche mais tarde em 2016. “Ele recusou,” disse Pasche e comentou que Jagger lhe disse “Você consegue fazer melhor.”

A segunda versão e final, que remetia a uma estética anos 30 e 40, e ainda incluía um avião Concorde, foi aceite com louvor. Pasche foi contactado pouco depois pelo assistente particular da banda, Jo Bergman, desta vez para criar um desenho que pudesse ser usado em papéis, como programas, capas e materiais de menor importância. Isso foi em 29 de abril de 1970.

John Pasche hoje e em 1970, quando criou a marca que se tornaria tão popular.

Numa reunião com o designer, alguns meses depois, Mick Jagger, foi mais específico: “Ele queria uma imagem que funcionasse por si só. Algo como o logótipo da Shell. Ele queria aquele tipo de simplicidade”, lembrou Pasche. Durante essa mesma reunião, Jagger mostrou a Pasche uma ilustração de uma divindade Hindu, Kali e Pasche perguntou se poderia levar emprestado. Já devia ter alguma ideia do que faria mais tarde.

Jagger, de acordo com Pasche, disse que “estava mais interessado na natureza indiana da peça”, a cultura indiana na Inglaterra estava na moda, mas o designer estava mesmo focado na boca aberta da deusa e sua boca protuberante. “Foi ali que eu decidi que seriam os lábios”, disse Pasche.

Contrário a crença popular, o logo foi criado em preto em branco e usado para depois se transformar em outras versões, e não foi criado a partir dos lábios e da língua de Mick Jagger.

Kali, a divindade que inspirou Pasche na sua criação, emprestada por Jagger, e ele usando uma camisola T-shirt com a marca.

Pasche comenta que seu logótipo também tinha a intenção de ser um símbolo de protesto. “Esse é o tipo de coisa que os garotos fazem quando mostram a língua para você,” Disse ele. “Por isso em achei que funcionaria bem.”

O logótipo foi executado mais tarde, no final de 1970. O álbum da banda “Sticky Fingers” foi lançado em abril de 1971 e o logótipo foi usado na capa traseira do álbum, e de forma mais extravagante na luva interna. Mais tarde, na versão americana do álbum, o símbolo foi ligeiramente alterado por Craig Braun.

Na época, Craig Braun trabalhava com Andy Warhol para entender a ideia de Warhol de criar um zipper abrindo para a capa do álbum. Segundo Pasche, Braun não modificou o logotipo por desrespeito, mas porque o desenho foi enviado à pressa por fax para os Estados Unidos e acabou ficando muito granulado e pouco nítido, precisou ser redesenhado.

Andy Warhol e capa do disco que criou para os Stones,
usando o logo de Pasche como capa interna.

Na versão alongada de Braun, acrescentou linhas extras e destaques, que continuam a ser usados oficialmente até hoje. Basicamente Braun recebeu o logótipo do de Marshall Chess, o presidente da Rolling Stones e fez contornos nos lábios e na língua.

Em 1972, Braun e Warhol foram indicados para um Grammy de melhor design de álbum por “Sticky Fingers”, mas perderam.

Com muita criatividade, o mundo inteiro usou a marca para utilidade ou simples diversão.

O logo de Pasche continuar a ser atribuído a outros. Muitos acham que é criação de Andy Warhol. Certamente isso se deve ao fato de Andy Warhol ter sido responsável por compor todos os materiais, mas certamente não o logótipo. De acordo com o livro biográfico de Blake Gopnik, “Warhol: A Life as Art” (Warhol: Uma Vida como Arte” os lábios e língua “não tinham absolutamente como ser criados por Warhol.”

A confusão persiste principalmente porque Warhol era um gigante cultural que atraía tudo em torno de si. Acabava levando créditos sem mesmo se dar conta, e nesse caso, não fez muito esforço em dizer o contrário.

O logótipo rendeu uma fortuna para os Rolling Stones. O relações-públicas da banda, Alan Edwards, que cuidou da publicidade da banda nos anos 80, diz que foi por volta de um bilhão de Libras em concertos, discos e vendas de DVD’s, merchandising e apresentações. Segundo um escritório de direito de propriedade intelectual Briffa Legal de Londres, o valor do logótipo está estimado em centenas de milhões de Libras.

O símbolo se tornou motivo para os mais diversos exercícios de criatividade.

Pasche recebeu 50 Libras em 1970, cerca de 57 Euros hoje, e depois um bónus de 200 Libras (230 Euros). Foi somente em 1976 que Pasche assinou um contrato que permitiu que pudesse receber royalties pela sua criação. Fez alguns milhares de Libras até 1982, quando vendeu os direitos para a banda por 26 mil Libras (30 mil Euros).

Segundo Pasche, ele poderia estar hoje a morar num castelo, caso tivesse mantido seus direitos, mas a decisão foi forçada por uma área cinzenta na lei de copyright na época. Se uma companhia usasse alguma coisa por muitos anos ela poderia assumir como sua, por fazer parte da companhia. Os advogados disseram que Pasche poderia perder na justiça e preferiu negociar um valor. “Era como David e Golias, na verdade”, disse ele “Um designer contra os Rolling Stones”.

O design original e único de Pasche, durou todo esse tempo independente da moda, tendências e do baixo preço pago pelo trabalho. Mesmo com tão pouca expectativa, ele representa uma banda da dimensão dos Rolling Stones e mais que isso, demonstra a adaptabilidade, “sex appeal” e pelo visto deverá ser um enorme sucesso por muito tempo mais.

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