Impacto do confinamento social na violência doméstica

04/04/2020

Por estes dias o tema em cima da mesa tem sido a pandemia e as suas consequências económicas, sociais e mentais. Se teve oportunidade de ler os meus textos anteriores verificou que tenho chamado a atenção para a importância de olharmos para esta situação de uma forma mais positiva, enaltecendo a oportunidade de passarmos mais tempo em família. Porém, o que para uns pode ser gratificante, para outros pode ser um verdadeiro pesadelo. No fundo, todo este tempo passado em casa é um teste à nossa paciência e, acima de tudo, às relações interpessoais.

Numa altura em que vivemos confinados a quatro paredes e em contacto permanente com as mesmas pessoas é natural que nos “salte a tampa” de vez em quando. A ansiedade e a irritabilidade está ao rubro, pelo que momentos de grande tensão familiar são de esperar. O ambiente torna-se mais pesado e a conflituosidade aumenta, o que pode potenciar mais desentendimentos familiares. Se isto já é um evento stressante para os casais que mantêm um relacionamento saudável, para aqueles que já tinham uma relação conflituosa e disfuncional é quase insuportável. É por esta razão que se espera um aumento dos casos de violência doméstica, tanto em relações que já eram abusivas, como naquelas em que haviam dificuldades relacionais mas ainda não tinha sido exercida violência. A título de exemplo a China reportou um aumento significativo das denúncias de violência doméstica durante o período de quarentena.

A violência doméstica pode traduzir-se em violência física, sexual, psicológica, social, financeira. É um exercício de poder exercido pelo(a) agressor(a) para com a vítima. Num contexto de maior isolamento, a vítima acaba por estar numa posição mais vulnerável e sentir-se sozinha, pois o contacto com a sua rede de suporte social fica limitado, ao ser mais controlado pelo(a) agressor(a). A capacidade de pedir ajuda às autoridades também é dificultada. Estes aspetos concedem mais poder ao(à) agressor(a) que mantém a vítima sob seu domínio. Se, em circunstâncias ditas “normais” a vítima já evitava contestar ou confrontar o(a) agressor(a), numa situação de isolamento social, poderá evitar mais, pois aquilo que não quer é aumentar em grande escala a tensão existente entre ambos, uma vez que poderá resultar numa agressão.  

Nestes casos, é fundamental que a vítima se tente proteger ao máximo. Ao prever os comportamentos violentos do(a) agressor(a) através, por exemplo, do aumento do tom de voz, de gestos agressivos ou alteração da expressão facial, torna mais fácil preparar uma resposta adequada.

Identifique as divisões da casa mais seguras, de preferência com acesso ao exterior através de portas ou janelas, para onde se possa dirigir em caso de discussão. Evite a cozinha, casas de banho, garagem ou outros locais da casa onde o acesso a objetos como facas, armas, ferramentas, seja facilitado, ou que sejam espaços sem saída. Nestas ocasiões é sempre importante ter acesso a contactos de apoio; pode decorar ou memorizar no telemóvel, caso seja seguro. Convém apagar as mensagens e os e-mails enviados, para que o(a) agressor(a) não tenha acesso aos mesmos. Se tal for possível, partilhe o que está a viver com pessoas da sua confiança (família, amigos) e identifique as que a(o) poderão ajudar se tiver de sair de casa. Pode também combinar um código (uma palavra ou um gesto) com vizinhos ou outras pessoas que vivam consigo (filhos, por exemplo) para pedirem ajuda em caso de emergência. Deve, de igual forma, ter uma mala preparada com uma ou duas mudas de roupa, algum dinheiro, documentos ou fotocópias dos mesmos e contactos úteis, para o caso de ter de sair de casa. A mala deve ser guardada num local seguro ao qual o(a) agressor(a) não tenha acesso.

A fita roxa simboliza os mês de prevenção à violência doméstica, em outubro.

Se é homem ou mulher a viver uma situação de violência doméstica, peça ajuda. Veja a seguir uma lista de contatos úteis para situações de necessidade:

  • Linha de apoio da Associação de Apoio à Vítima (APAV) – 116 006
    durante os dias úteis das 9h às 21h.
  • Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) – Serviço para envio de mensagens para o caso de não poder efetuar chamada – 3060 e também telefone 800 202 148 disponível 24h por dia e o email: violencia.covid@cig.gov.pt .
  • Em caso de emergência ligue para o 112.

A violência doméstica não escolhe idades, géneros, raças ou condição social e, numa situação excecional como a que vivemos, em que nos é imposto um isolamento social, torna-se premente, enquanto cidadãos, contribuirmos para o combate à violência.

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