A experiência de uma vida confinada

24/03/2020

Ninguém está pronto para grandes mudanças, mas quando elas surgem, só resta aproveitar o que se aprende com elas, relaxando, mantendo a calma e segurança.

Uma pandemia que nos obriga ao isolamento social é coisa séria. Deixamos de contactar presencialmente com familiares, amigos, colegas de trabalho. Impõe-se uma nova rotina, à qual nos precisamos de adaptar. E claro que, como outra mudança ou adaptação qualquer, também esta poderá ser geradora de elevados níveis de stress.

Vivemos tempos difíceis, nos quais a nossa capacidade de adaptação é colocada à prova. Muitas situações complicadas pelas quais passámos contribuíram para aumentar a nossa resiliência, o que nos ajudará a lidar com esta nova exigência, de forma mais eficaz.

Passar mais tempo em casa, vermos as nossas idas à rua condicionadas ao estritamente necessário, leva-nos a uma sensação de “prisão” e solidão. Não podemos pegar no telemóvel e marcar aquele café com os amigos que estava há tanto tempo em lista de espera. Não podemos, ou melhor, não devemos, combinar os jantares de família, que talvez antes parecessem chatos, mas que agora nos dão uma saudade imensa. Em alguns casos não nos podemos deslocar para o nosso local de trabalho, o que poderá significar perdas significativas de rendimento. De momento, a maior parte das nossas vidas está em suspenso, o que é necessário face à gravidade da situação.

Todas estas limitações podem contribuir para o aumento da irritabilidade, tristeza, ansiedade, stress, medo e frustração por não podermos fazer as nossas rotinas e atividades habituais. Mas é importante aceitarmos esta condição como normativa. Se por um lado parece ser dramático demais, os danos psicológicos podem não ser assim tão graves. Apesar de podermos experienciar este tipo de sintomatologia, e tal como referiu o Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Francisco Miranda Rodrigues, é pouco provável que desenvolvamos, neste período, uma perturbação de saúde mental, como por exemplo a depressão. No entanto, em pessoas que já padecem dessa condição, os sintomas podem agravar-se, pelo que se torna imprescindível manter a medicação habitual e o acompanhamento especializado, mesmo que seja à distância – via Skype, Whatsapp ou outros meios eletrónicos que estão à nossa disposição.

Para combater a irritação, a tristeza, a ansiedade, o stress, a frustração e outros sentimentos que possamos experienciar, é importante não descurarmos aspetos essenciais ao nosso bem-estar físico e mental. Devemos, portanto, manter o nosso horário de descanso e de sono; fazer uma alimentação saudável; praticar algum exercício físico; realizar atividades de que gostamos, como ler, escrever, fazer croché, pintar, brincar com os filhos. É importante também limitarmos a nossa exposição a informações que nos possam perturbar. Não é necessário vermos várias vezes ao dia os noticiários que repetem frequentemente a mesma informação. Isto promove o alarme social e faz com que pensemos sempre no mesmo. O facto de pensarmos demasiado numa fonte de preocupação, não significa que ela se resolva mais rapidamente. Deste modo, devemos procurar apenas informação essencial e em fontes credíveis e depois dispersar a nossa atenção para outros afazeres.

No meio desta nuvem negra que nos paira pela cabeça, permitam-me ver o lado positivo. Vivemos este isolamento social numa era tecnológica, pelo que podemos, e devemos, manter o contacto com os nossos familiares e amigos através dos dispositivos digitais que temos ao dispor, seja por telefone, videochamada, e-mail ou redes sociais. Além disso, andávamos sempre tão ocupados com as nossas rotinas, muitas vezes até em piloto automático, que quase não passávamos tempo em família. Agora temos essa oportunidade e são as crianças que mais a estão a valorizar. Finalmente têm os seus pais disponíveis para lhes darem atenção.

Acreditemos que somos capazes de superar este obstáculo. Afinal não vai durar para sempre. São apenas alguns dias. E não tarda, estaremos de volta à nossa correria diária. Por enquanto, somos todos chamados a protagonizar um dos papéis mais importantes da nossa sociedade – sermos agentes de saúde pública. E só conseguiremos cumprir esse papel, se cuidarmos da nossa saúde mental e estivermos atentos ao que acontece connosco e com os que estão ao nosso redor.

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